sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estrela decadente

Celebridades são aquelas pessoas que sabem atuar. Todos deveriam temê-las, mas tem fixação.

Uma estrela cadente passou pela janela dos meus olhos. Eu deveria fazer um pedido, sei que deveria! Peguei meu celular, porém, e disquei para um amigo. Eu ia me gabar, ia despejar-lhe vitória pessoal! A estrela apareceu para mim. Poderia pedir tudo o que quisesse! Eu queria um carro melhor. Não, não. Uma cobertura em Ipanema. Sim! Meu amigo, meu cúmplice da derrota, ele ia babar por mim. Nossa amizade sempre baseada na batalha implícita do ego, quem iria se sobressair a quem. Agora era o golpe de minerva: eu era o vencedor. Uma estrela passando por mim! Um desejo, vou fazer um desejo!
Ninguém atende. Ipanema... Leblon... Barra da Tijuca. Por que o panaca não atende? Dane-se o infeliz: tenho minha mãe! Claro! Mamãe... sempre duvidando de mim, sempre colocando obstáculos no caminho dos meus sonhos. Óbvio que eu poderia ser famoso, rico, poderoso. Poderia, sim. Agora serei. Estrela cadente, linda, maravilhosa. Uma mansão no Nordeste pra passar as férias... claro! Qual era o número da mamãe mesmo? Não tenho aqui... Fama! Eu quero ser famoso... Ter a voz de cantores internacionais. Quantos pedidos a estrela me concede? E seu eu pedir que tenha direito a um pedido por dia pro resto da vida? Sim, sim! Esse mês vou pedir apenas imóveis, por todo o mundo! Depois, amor! Sexo, vida! Cadê o telefone da mamãe, Jesus? Eu vou mostrar pra ela, ela que um dia me bateu. Reprimiu-me. Agora eu tenho o mundo nas mãos. Achei o número! Discar... Discar... Atende, mamãe! Eu quero ter o poder da sedução. Quero transpirar sensualidade. Todos vão me desejar, todos vão querer ser como eu.
Mamãe trocou de celular. Eu quero ser bonito! Quero ter a beleza dos príncipes, quero ter o dom da dicção, da comunicação. Pra quem eu ligo? Mamãe não está em casa a essa hora... Claro, é dia da hidroginástica! Pra que isso? Saúde! Eu quero saúde pra sempre. Quero chegar aos cem anos como se estivesse aos vinte. Serei um coroa bon vivant, caminhando com roupão de seda pelos meus jardins em Paris. Estrela cadente, linda graciosa! Você é bela, é eterna. Eu quero ser eterno, quero ser imortal! Nas gerações futuras, serei lembrado pra sempre! Habitarei capas de livros, enciclopédias. Minha ex-namorada. A hipócrita. Aquela que não deu valor ao homem que a amava. Eu, um homem maravilhoso. Ela perdeu, estaria agora ao meu lado concretizando seus sonhos, seus desejos mais profundos.
Vou ligar pra ela. Saberá que cometeu o maior erro de sua vida. Eu vou pedir o mundo, o segredo do universo! A origem de tudo, a sabedoria universal. A verdade! É claro que existe uma verdade! Quero falar com os mortos, ser imortal. Eu quero ser uma estrela! Eu quero ser A estrela! Eu quero conceder desejos. Serei você, estrela cadente... quero seu posto! Misterioso, lindo, invejado, amado... um símbolo eterno!
- Alô?
Ela atendeu! É a hora! A hora de me tornar Deus!
- Olha... Já pedi pra não me ligar mais.
Dê uma chance a ela. A coitada não sabe o que diz, não sabe que está falando com Deus.
- Eu vou desligar.
Ela desligou. Covarde! Mais um desejo pra entrar na lista: passar a ser audacioso, valente. O telefone toca. Ele, o invejoso! Sim, a graça de toda aquela história. Mostrar pros outros o quão bom ele será. O amigo deve estar ligando para se gabar de mais alguma coisa, mais uma façanha. Mas eu ganhei dele, de uma vez por todas. Provarei ser o melhor.
- Alô?
- Você não vai acreditar, hoje eu...
- Cala a boca.
Olhei pela janela dos meus olhos, pronto pra fazer o pedido. Era a hora!
- Cala a boca? Você enlouqueceu?
Cadê a estrela cadente? Cadê? Ela se foi! Como? Tão rápida! Não deu tempo... como pude deixá-la passar?
- Alô, mal educado. Você ainda está aí?
Estou. E sou uma celebridade. Eu vi uma estrela cadente! Não dou mais satisfações a ninguém. Desligo o telefone. Não importa, eu não fiz o pedido... mas e daí? Eu a vi! É o mais importante! Eu vi uma estrela cadente!


Ele não conseguiu falar com a celebridade. Ainda tentou correr atrás do carro, mas era tarde demais.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Privada, eu?



Após descobrir que tenho um sexto de uma dúzia de fãs, resolvi retornar com alguns posts não-periódicos. Não que eu pense estar superior a um blog agora, muito pelo contrário. Não sou ninguém. Passei os últimos seis meses aceitando a opinião alheia, tendo que escrever em provas o que fulano acha da democracia, o que sicrana pensa sobre a sociedade. E o que eu penso? O que você pensa deve ser escrito em um blog, ou num caderno de anotações surrado da coleção contemporânea “Cor e Arte”, da Tilibra. Arrependo-me de ter abandonado de certa maneira esse blog, esse espaço. Apesar de eu adorar quando outras pessoas lêem minha escrita, escrevo tudo para mim mesmo, como uma privada em que você libera suas necessidades.
Não franza o cenho, qual o problema com metáforas em relação à privada? E a sua vida privada? Uma das suas melhores amigas não deveria ser digna de habitar pensamentos grotescos e preconceituosos. Deixe-a em paz. Deixe-me sossegado. Faço metáforas do que quiser. Esse blog é como uma privada; e isso é uma coisa boa.
As instituições são privadas. Embora as do governo sejam estatais, também continuam sendo privadas.
Chamamos nossa vida e as instituições de privadas, e temos repulsa pelo nome.
Adoro a sintaxe e a semântica.

Depois de quatro meses de férias, volto a depreciar nossa sociedade já depreciada.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Super-Homem verde e amarelo

Se fosse nos EUA, eu olharia para o céu e esperaria o Super-Homem pousar triunfalmente.
no Brasil, ia rezar pro Super-Homem não aterrissar em minha cabeça e reduzi-la a cacos.

Ainda bem que aqui temos nossa polícia, e não o Super-Homem.


PS: Já criaram os seriados CSI MIAMI, CSI NY, LAS VEGAS, ARQUIVO X(que também é de matar)... E o que estão esperando para criar o CSI RJ?

sábado, 9 de agosto de 2008

Frescurinhas do século XXI

Quem é a vilã da novela? Quem jogou Isabela Nardoni do prédio? Suzane von Richthofen é a assassina de seus pais? Quem matou Dercy? Capitu traiu Bentinho?



Nosso maravilhoso século XXI se resume, até agora, em mistérios (salvo Bentinho e Capitu). Tanto na vida real quanto na teledramaturgia. Mistério dentro de casa, mistério no apartamento do vizinho, mistério nas ruas do Rio de Janeiro. Aquela pitada de medo que nos incomoda acaba tornando-se um verdadeiro bafafá diante das pressões que a televisão e as pessoas nos impõe. Você deve achar exagero de minha parte dizer “nosso maravilhoso século XXI”, uma vez que em diversos momentos da história da humanidade estivemos cercados de mistérios obscuros e aterrorizantes. Mas, creio eu, nunca o homem se deliciou tanto com segredos e a desgraça alheia.
Antigamente tínhamos homens em cavernas, devidamente separados. Um invadia o ambiente do outro e era atacado e morto. Não precisava de diálogo. Tudo era feito sem frescuras. Hoje nós preferimos deixar as coisas mais perfumadas. O mistério incita a curiosidade, e o homem, por natureza, é um ser curioso. Logo, tudo que é misterioso é mais gostoso. Pena que o proibido já se tornou muito comum a essa regra.
E digo mais: a culpa não é da mídia! Adoro ver as pessoas julgando jornais, revistas, programas de TV, palavras cruzadas e “receitas do verso” para colocar a culpa dos males mostrados. A mídia só faz aquilo que lhe é mandada. A mídia é o boi, e nós somos as vacas. Aonde a vaca vai, o boi vai atrás. Simples assim.
Nós gostamos de ver assassinatos. Nós adoramos ver crianças passando fome. Nós nos deliciamos com a pobreza e com a desgraça. Ficamos eufóricos ao ver um mistério aterrorizante. E ainda temos a cara de pau de atuar em favor da ética e do bem-comum. “Chega de mortes no jornal”. “Não agüento mais ver problemas do mundo na televisão”. Mentiroso! Você adora! Há momentos em que sinto estar me afogando diante de tanto desespero, levando comigo todas as frustrações.
Todo mundo lembra da menina que foi atirada do prédio. Alguém se recorda do aleijado que fazia pipas com os pés, caminhando 3 km ao dia debaixo do sol para vendê-las na cidade? Bem que o jornal tentou mostrá-lo.

Sinto que fiz uma redação de vestibular: chata, uniforme e previsível.
Momento desabafo às vezes sai assim mesmo. Ou você, por acaso, gosta de ouvir alguém reclamando sobre algo que não lhe interessa?
Ah, mas ai de você que não ouça o que a pessoa tenta lhe dizer. Fingir que se preocupa é o mínimo aceitável.
Bem vindo ao século XXI!



Se quiser matar alguém, mate mesmo. Não esconda a arma do crime e nem tente incriminar outra pessoa. Faça tudo sem frescuras.

sábado, 2 de agosto de 2008

Viu, Gloria Kalil?

Falando de esnobismo...

Brega é perguntar o que é chique. Chique é não responder.
Zózimo Barroso de Amaral (1941-1997)




Viu, Gloria Kalil?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Até o Diabo é bom!


Durante um passeio noturno pelas ruas de São Paulo, o Diabo nota muitos mendigos jazendo nas ruas. Andando mais um pouco, deslumbra-se com a quantidade de lixo espalhado fora das lixeiras.
“Impressionante” - ele pensou – “O homem nutre a ignorância”.
Após dobrar algumas poucas esquinas, depara-se com mulheres em trajes graciosos. Elas rodavam suas bolsas enquanto esperavam um carro parar. O Diabo notou que o homem pagava pelo corpo das fêmeas.
“Magnífico” – ele pensou – “A carne humana é fraca”.
Passando por um beco, ele notou que um grupo de jovens abusava de uma pobre mulher. Ela, prensada contra a parede, berrava pedindo ajuda enquanto ou homens abaixavam-lhe as calças.
“Enigmático” – ele pensou – “A carne humana é realmente fraca!”
Continuando sua caminhada, o Diabo vislumbrou um casal sentado num banco. Cheiravam um pó branco, sem parar. Ambos pareciam fora de si.
“Gracioso” – ele pensou – “O ser humano proclama a gula.”
Cantarolando por uma ruela, o Diabo é surpreendido por um ser encapuzado. A criatura leva seus trocados e lhe dá um chute.
“Aterrorizante!” – ele pensou – “O homem exala ganância!”
Andando mais um pouco, o Diabo notou um grupo de jovens cercando um ônibus. Parou para vislumbrar o espetáculo. A gangue tacava fogo na condução enquanto os passageiros gritavam exasperados. Havia crianças e mães, grávidas e pais de família, idosos e pessoas de bem.
“Chega!” – ele pensou – “Isso aqui é um Inferno!”

Desistiu do passeio e voltou para seus aposentos. O Diabo estava com medo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Felicidade, passei no vestibular!

Sei que minha vida pessoal não deve interessar a você, caro leitor. Peço perdão por colocá-lo a par de assuntos que não veio procurar.
Mas hoje, e apenas hoje, eu digo: pouco me importa!

Sim! Saiu o resultado do tão esperado vestibular: aprovado na Universidade de Brasília.
Não espere que eu fale mal de alguém ou alguma coisa, pois não o farei!
Minha felicidade é tanta que posso dizer que o mundo é belo, o ser humano é maravilhoso e o destino é espetacular. Pode rir, pois agora sim, minha vida começa!

Abraços a todos que acreditaram em mim.
Beijos para os que não acreditaram.

Eu jogo a minha cartola pro alto, e dou graças a Deus!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Criatividade de Vó



Assim como crianças, as vovós e vovôs são dotados de uma criatividade peculiar. Eu assumo que não suporto crianças chatas(hiperativas), assim como não suporto idosos chatos(hipoativos).
As crianças e os idosos são os dois opostos da reta da vida. Filosófico? Sei que não, desculpe. A questão é que esses dois estágios da vida são mais semelhantes do que aparentam. Ambos abusam intensamente do seu jeito de ser. Você já viu uma criança equilibrada? Ou elas são muito atiradas, ou muito tímidas. Ou quebram tudo que vêem, ou não tocam em nada. Idosos? Ou são depressivos, reclamando da vida e de doenças enquanto vêem o "Vale a pena ver de novo", ou são viajantes da vida, rindo, aproveitando e intensificando aquela grande ruga em sua testa.
Claro que existem os meio-termos, mas creio que sejam raros.
Minha tese de doutorado é: Quanto mais intesa é uma pessoa, maior é sua criatividade.

- Onde ele foi, meu neto?
- Foi jogar Free Cell, Vó.
- Jogar pincel?
- Não Vó, Free Cell!
- O que é isso?
- Um jogo de cartas, vovó.
- Meu filho, sua vó é campeã de cartas, conheço muitos jogos. Mas esse "Pincel sei lá o quê" sua avó nunca ouviu falar!
- Dai-me paciência.
- Paciência eu conheço!

Ah, parece até culpa da idade e de gerações passadas. Mas covenhamos, não deixa de ser CRIATIVIDADE!

Gostaria de mandar um beijo pra minha avó campeã de cartas, para o filósofo Hammid Hammud, que usa o Free Cell para dar lições de vida, e para um certo pãozinho que me espera no Recreio.
Não Xuxa, hoje não tem beijo pra você.

domingo, 29 de junho de 2008

Uni-duni-tê

É a maior invenção criada para pessoas sem atitude e ousadia.

Uni duni tê
Salamê minguê.
A carapuça te serviu?
Não há de que!

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Cadê meu presente?

Diante da falta de dinheiro, não me restou outra alternativa: ofereci minha pessoa como presente à aniversariante.

Dinheiro é tudo, não é mesmo?

Minha vai mudar. Ah... vai sim!

sábado, 10 de maio de 2008

Cheiro de ar



Há alguns dias, andava eu pela rua, sonolento. Tentava me sentir invisível, como se pudesse passar desapercebido pelas pessoas deste insano mundo. Meu plano de invisibilidade ia funcionar perfeitamente bem. Uma cena triste, porém, ergueu-se diante de mim: um pobre velho pedindo ajuda freneticamente no meio da calçada. Diabo! Por que logo no dia em que desejo sumir, algo me força a aparecer?
Essa história tem dois finais. A primeira se chama “Socialismo Utópico”, e a segunda se chama “Socialismo Real”.
Em “Socialismo Utópico”, aconteceu aquilo que Deus gostaria de ter visto. Se essa versão realmente tivesse acontecido, eu diria que vale a pena viver cada segundo dessa preciosa vida! Infelizmente, ela é apenas utópica. É um desfecho esperado por todos aqueles que buscam o valor do ser humano.
O velhinho veio cambaleante pela calçada. Apoiava-se numa bengala de madeira surrada. Pedia ajuda desesperadamente. Ele não berrava, apenas sussurrava perto dos que passavam. “Por favor, ajude-me!”. Se você pensa que ele queria dinheiro, você está enganado. Seus olhos pediam algo mais. O pobre senhor necessitava de algo importante. Era notável.
Duas adolescentes simpáticas seguraram o pobre homem no braço e perguntaram-lhe do que ele precisava. A perna. Sua perna estava doendo muito, necessitava urgentemente de um hospital. Um homem de terno parou ao lado do senhor e ajudou a levá-lo para um ambulatório que havia ali perto. Mais uma meia dúzia de pessoas se prestou para ajudá-lo também. Estavam todos preocupados com o pobre senhor. Tudo ocorreu bem! No fim, um arco-íris iluminou o céu e pôneis sobrevoaram as nuvens jogando tulipas sobre o ambulatório. Todos riam e se divertiam diante dos bons atos. O câncer desapareceu da face da Terra e todos viveram felizes para sempre.
Em “Socialismo Real”, aconteceu aquilo que realmente acontece na vida real. O egoísmo se perpetua diante de qualquer outro sentimento.
O velhinho veio cambaleante pela calçada. Apoiava-se numa bengala de madeira surrada. Pedia ajuda desesperadamente. Ele não berrava, apenas sussurrava perto dos que passavam. “Por favor, ajude-me!”. Se você pensa que ele queria dinheiro, você está enganado. Seus olhos pediam algo mais. O pobre senhor necessitava de algo importante. Era notável.
Duas prostitutas mirins passaram pelo pobre velho com ar esnobe e cara de nojo. Um velho! Grande coisa para as duas futuras modelos. Um cavalo de terno parou ao lado do velho, olhou para ele e seguiu seu caminho. Mais meia dúzia de pessoas passou pelo pobre velho parado no meio da calçada. Era minha vez, e sentia como se aquele fosse meu julgamento. Ainda não concatenava as idéias sobre a situação que havia se postado perante mim. Não é desculpa. Nervoso, passei pelo velho. Igualei-me às prostitutas e ao cavalo. Sentia que era a pior da pessoa da face da Terra.
Já refletindo sobre o ocorrido, senti-me mais pesado ainda. Onde estão os valores de todos? Onde estão os meus ideais? Sinto-me perdido, vagando pela escuridão vazia da indiferença. Não sei o que tinha o pobre senhor, e com certeza nunca irei saber. Eu falhei. Sou um fracassado!
Peço perdão a mim mesmo, por ser tão egoísta. Melhorarei. Prometo! Não é promessa política, é compromisso.
No fim de “Socialismo Real”, o pobre velho caiu morto no meio da calçada. Não morreu pelo seu problema, foi-se graças ao descaso humano. Abandonou uma vida pelo qual não queria mais batalhar para ter. Abdicou do cheiro do ar e do gosto da água para aliviar o sofrimento.
Sou indiferente, como o gosto da água e o cheiro do ar. Desculpe.
É um compromisso comigo mesmo: mudar.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

"O Futuro da Humanidade"

Ele falava com Deus como se fosse seu amigo.
- Ei! Quem é você que está por trás da cortina das nuvens? Por que você se esconde através do véu da existência? Por que silencia sua voz e grita através dos fenômenos da natureza? Por que gosta de se ocultar aos olhos humanos? Sou uma ínfima parte do universo, mas clamo por uma resposta. Deixe-me descobri-lo.
Marco Polo ficou espantado com esse diálogo singular. Entretanto, mostrando um ar de intelectual, virou-se orgulhosamente para o amigo e disse:
- Falcão, Deus não existe. Ele é uma invenção espetacular do cérebro humano para suportar as limitações da vida. Desculpe-me, mas, para mim, a ciência é o deus do ser humano.
Numa reação surpreendente, Falcão se levantou. Subiu em cima do banco da praça e começou a chamar aos gritos todos que por ali passavam. Com gestos histriônicos, bradava:
- Venham! Aproximem-se! Vou mostrar-lhes Deus!
(...)
- Deus está aqui! Acreditem! Vocês ficarão perplexos ao vê-lo!
Num instante, reuniu um grupo.
(...)
De repente, Falcão silenciou. Apontou as duas mãos para Marco Pólo e disse aos altos brados:
- Eis Deus em carne e osso! (...) Acreditem, esse jovem é Deus! Por que lhes afirmo isso? Porque ele acabou de dizer que Deus não existe, que é um mero fruto do nosso cérebro! Vejam só! Se este jovem não conheceu os inumeráveis fenômenos de tempos passados, se ele nunca percorreu as bilhões de galáxias com seus trilhões de segredos, se ele não desvendou como ele mesmo consegue entrar em seu cérebro e construir seus complexos pensamentos, e, apesar de todas essas limitações, ele afirma que Deus não existe, a conclusão a que cheguei, meus amigos, é que esse jovem tem de ser Deus! Porque só Deus pode ter tal convicção!
(...)
Falcão desceu do banco e sentou-se:
- Sabe que sabor tem este sanduíche?
Marco Polo, envergonhado, maneou a cabeça dizendo que não.
- Se você não tem segurança para falar de algo tão próximo e visível, não fale convictamente sobre algo tão distante e inatingível. Não é sensato.



(Augusto Cury; O Futuro da Humanidade; Pg 76-77)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Gordura trans no cérebro



Quem você pensa que é? Digo-lhe que não é muita coisa. Um mero pedaço de ser, um bocado de pele encobrindo órgãos horrendos. Responda-me: Alguém, por Deus, acha o coração bonito? Eu não acredito que nós, seres tão superiores e dotados de vasta experiência, tenhamos que nos contentar com órgãos tão feios e mal formados.
Não me diga que seu intestino é mais bonito que o meu! Acho que eles estão empatados. Por conseguinte, não venha me dizer o quão você é bonito por dentro. Eu não sou bonito. Sou um amontoado de ossos e líquidos malucos trabalhando por ordens de uma orgia de minhocas. Nosso cérebro é uma orgia de minhocas. E é tão insano pensar nele... O cérebro pensando sobre o próprio cérebro – magnífico! Meu cérebro parece mais um intestino, você não acha? E se o intestino fosse nosso cérebro, e este por sua vez nosso intestino?
Engraçado. Nosso cérebro processa merda. Enquanto isso, pensamos com nossa barriga. Agora entendi tudo! O segredo da vida foi desvendado! Estamos invertidos, pessoal! O ser humano é doente! Agora tenho motivos suficientes para festejar a morte!
Enquanto vocês matam inocentes, torturam crianças, dormem com dor de cabeça e não passam gordura trans no pão, eu coloco minha cabeça debaixo da terra. Não que eu a queira esconder, apenas necessito de uma autocura para essa prisão de ventre. Minha cabeça está presa! Preciso colocar todo esse estrume para fora!
Nossos intestinos são iguais, a diferença é que eu pretendo colocar para fora do meu o que está entalado e faz mal. E você? Vai ficar aí parado pensando com a barriga ou vai fazer algo? Viva a gordura trans cerebral!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Caixa de supermercado

O caixa saiu do supermercado no fim da tarde e tirou do bolso uma aliança. Ele iria propor em casamento a sua namorada, no restaurante que havia combinado. Quando dobrou uma esquina, levou um tiro e morreu.
Seus amigos e familiares choraram no funeral.
Sua namorada se casou três anos depois.
Após trinta anos, ninguém mais sabia quem fora aquele homem.

Só restaram registros.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Eu voto em mim mesmo, por falta de afinidade

É, é. Vai acreditando que a vida é fácil. Eu pensava que o destino já vinha escrito, como as músicas do Tom Jobim. Imaginava na minha profunda e medíocre inconsciência, que ao nascermos nós estaríamos predestinados a um futuro certo, independentemente do que viríamos a fazer. Eu errei. Como eu realmente acredito que sou dotado de profunda e vasta experiência (pobre de mim), me iluminei, e agora me sinto um iluminista nato. Sim, sim. Quem precisa de Rousseau, Robespierre ou Renato Russo (também iluminista) quando se tem o BBB?
Eu adoro falar de BBB sim, porque é muito divertido. Pudera eu entrar numa casa dessas e deixar meu futuro nas mãos do povo brasileiro! O mesmo povo que elegeu nossos tão amados senadores e deputados. Você se arriscaria? Lembre-se do um milhão.
O fato é que sinto, às vezes, que meu destino está nas mãos de outras pessoas. Vejo que os passos de indivíduos a minha volta interferem direta ou indiretamente no meu futuro. Eu consigo cheirar uma história que vai se formando. Uma história minha. Eu sou egoísta, sim. Mereço, no mínimo, ser protagonista da minha própria cabeça. Quero sentir o gosto de ser o astro da minha história. Se eu não o for, quem o será por mim?
Tom Jobim escreveu suas músicas. Eu vou escrever a minha história. Não quero saber de ouvir iluministas franceses que ditem o que é certo e o que é errado. Eu tomo minhas próprias decisões. Eu quero ter a minha personalidade. Não vou ser influenciado por dogmas clássicos.
Se eu for deixar meu futuro nas mãos dos outros, vou acabar sendo eliminado dos meus sonhos. Assim acontece no BBB. Assim acontece no mundo.
Me lembrei de uma coisa agora: nós somos o povo que elegeu os senadores e deputados.
É, é. Nós os elegemos. Nós os eliminamos. Nós colocaremos o Palácio da Alvorada no paredão.
Eu me enjôo disso tudo. Vou lá ler teorias iluministas ao som de Renato Russo, enquanto acredito que a vida é fácil e preparo meu destino mentalmente.
Termino secamente meu textinho iluminista como faz Cecília Meirelles: Adeus. A-deus.

sábado, 1 de março de 2008

Eu me acho, e não sou!

Autógrafos só na saída, obrigado.
Eu pelo menos assumo.
Vai dizer que você também não queria ser o novo "dono" de Cuba?
Todos esperávamos ansiosos nosso nome quando o ditador Fidel Castro começou a brincar de amarelinha com a Morte.
Que pena, fica para a próxima.
Agora eu tento o Big Brother. Infelizmente, assim como muitas universidades, o BBB reduz suas vagas devido às cotas:
- Uma vaga para negros
- Uma vaga para Julianas
- Uma vaga para homossexuais

Eu posso fazer o quê?
Continuar me achando, é óbvio.
Autógrafos só na saída, por favor.

Pelo menos eu tenho uma fã:
Beijos para você Renata!

Sozinho não morrerei! :)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

E se essa moda pega no Brasil?


É impressionante.
Ainda há pouco vimos o massacre da Universidade Técnica de Virgínia, onde o chinês Cho matou mais de 30 pessoas.
Agora me vem mais um massacre, que surpreendentemente também ocorreu nos Estados Unidos. O ex-aluno Steven Kazmierczakde invade a sala de aula atirando para todos os lados.

Parece que invadir instituições de ensino e atirar em pessoas virou moda nos EUA.
De quem é a culpa?
Das líderes de torcida americana ou dos sanduíches do MacDonald's?
Ainda bem que no Brasil a moda ainda é esfiha do Habib's... pelo menos eu espero que seja.

Confesso que estou com medo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Farejando Cadáveres

Eu fiquei pelado e pulei no mar. Enquanto todos olhavam os fogos de artifício, decidi olhar para o mar. Vi cadáveres boiando. Eles cheiravam muito, muito mal!
Não era reveillon, muito menos ano novo. Era um dia comum, e as pessoas olhavam para o céu esperando o espetáculo que nunca começava.
Você pensa que a vida é ano novo sempre? Pare de olhar para o céu, seu infeliz! Olhe para o mar, tem gente se afogando!
Depois eu me dou um tiro na cabeça e ninguém entende. Prefiro isso a morrer afogado no esquecimento. Pode olhar para baixo, seu infeliz! Minha cabeça explodiu, esses fogos são o bastante para você?

Eu não suicidei minha pessoa. Vocês é que me suicidaram.

Farejo cadáveres no mar. Cansei de esperar pelos fogos de artifício.