terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Eu tenho um caso com Mamãe Noel

Era uma vez o Papai Noel. Velhinho adorável, doce e solidário. Todos os anos, no dia de Natal, ele entrega presentes para crianças. Todos o adoram e usam sua imagem com alegria e orgulho. Poupe-me! Livre-me de mais um burguês da Idade Contemporânea. Papai Noel nasceu há muito tempo, e já estava a frente de seu tempo. Por isso ele fez e faz tanto sucesso. Todos aqueles que inovam são mais chamativos.
O Papai Noel hoje veste terno e lidera grandes empresas. É serio! Antigamente existia apenas um, vestido de vermelho e andando de trenó. Hoje eu posso ver milhares, todos andando de limusines e pegando táxi para ir na padaria. Fazem uma doação ali e outra aqui e juram estar fazendo o melhor para a humanidade. Poupe-me! Livre-me de gente hipócrita! Velhinho safado. Entrega um presente barato uma vez a cada ano e fica de bem consigo mesmo todos os outros 364 dias.
Todos vivem assim nos dias de hoje. Fazem uma caridade aqui e outra ali e já está ótimo! Os humildes adoram. Amam ver um político indo lhe entregar cesta super-básica uma vez ao ano. Eu voto no Papai Noel! Ele é caridoso. Ninguém vê as verdadeiras caridades de terceiros, ninguém dá valor aos que realmente fazem um bom trabalho. Aqueles que se dedicam e se preocupam fielmente, esses sim, são os merecedores de andar no trenó e de limusine mundo afora. Mas como nada no mundo funciona, os realmente merecedores de árvores de Natal andam é de carroça.
Papai Noel é um safado. Trabalha um dia por ano e já acha que faz muito. Ele me cheira a político. Eu tenha pena é da Mamãe Noel, uma pobre coitada. Primeira dama que está sempre em segundo plano. Imagino ela aturando Papai Noel todo o ano enquanto faz ensopado de rena. E os anões? Ah, claro! Papai Noel é burguês, não se esqueça! Os anões são os operários, para variar. Aposto que nem recebem salário. Ficam felizes em fazer brinquedos para o gordo. As pessoas agradecem os anões no dia de Natal? Nem respondo. Branca de Neve é outra empresária e política metida. Com toda aquele seu andar majestoso e cara de princesa do século passado, ela irrita profundamente tanto quanto Papai Noel.
Branca de Neve tem sete anões. Papai Noel deve ter sete renas, não tenho certeza. Aposto que eles trocam os papéis de vez em quando. Ele empresta suas renas a ela para andar em carruagens de abóbora, e ela lhe empresta os anões para fazer o árduo trabalho. O mais-valia é realmente uma coisa bela. Acho que Papai Noel tem um caso com a Branca de Neve, para falar a verdade. Político e empresário é tudo brinquedo do mesmo saco.
Espero do fundo do coração que todos os Papais Noéis e Brancas de Neve do meu século sejam felizes, pois não vejo como eles podem o ser com a culpa da situação mundial nas próprias mãos. Espero que caia mais dignidade da chaminé de cada um. E que eles a aceitem de braços mais abertos. Eu, e toda a população mundial só teríamos a agradecer.
Um dia eu ainda vou na casa dos outros e jogo sentimentos embrulhados pela chaminé. Entrego de carroça mesmo. Mas até lá, vou para a casa do Papai Noel ter um caso com Mamãe Noel. Afinal, só posso fazer isso uma vez a cada ano, não é mesmo? Espero que ela não tenha salgado demais o ensopado de rena. Feliz Natal!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Diabo não sabe fazer mel

Senti a Morte a um passo de mim. O fundo do penhasco parecia estar a menos de uma piscada de distância. Fechei meus olhos e não quis mais abri-los. Se eu o fizesse, estaria condenado ao Inferno. Com certeza o Paraíso não era meu lugar, não depois de tantas maldades presenciadas por minha pessoa.
Fazendo muita força para continuar de olhos fechados, sentia cada vez mais perto a presença do Diabo. Ele mastigava chiclete e ouvia MPB em seu radinho de pilhas. Eu podia ouvir as duas coisas. Também senti Deus chegando, ele gostava de estalar os dedos continuamente. Aquele barulho de mastigação de chiclete juntamente com estalos de dedos e música no fundo começou a me deixar com coceira no cotovelo.
Meus olhos me enganam. Seus olhos também o enganam. Assim como você, eu só vejo o que quero ver. Nossos olhos são crianças mimadas e egocêntricas. Gostam de focar o mel e nos deixar com vontade de colocá-lo na boca. Fazemos isso. Logo em seguida as formigas beliscam nossa gulosa língua. É nesse ponto que enxergamos aqueles insetos que ali estavam. Olho trapaceiro!
Há uns dias atrás eu fiz um tour pelo Paraíso. Não era nada comparado ao castelo da Cinderela, mas era alguma coisa. Gostei do local porque era aconchegante. Não gostei do local porque tinha muitas formigas. A diferença, era que lá tinha pouco mel, porém muito saboroso. Diga a verdade, até que vale a pena provar do mel e ser beliscado. Fazemos isso todos os dias. Sabemos que existem formigas ali, apesar de não podermos vê-las.
Há uns dias atrás fiz um tour pelo Inferno. Não era nada comparado ao Rio Tietê, mas era alguma coisa. Gostei do local porque era refrescante. Não gostei do local porque tinha muito mel com pouco sabor. A diferença, era que lá não tinha formigas. Diga a verdade, até que vale a pena provar do mel e ser beliscado. Diga a verdade, até que vale a pena provar do mel sem ser beliscado. Fazemos isso todos os dias. Sabemos que existe mel ali, apesar de muitas vezes focarmos nas formigas.
Mas que droga, não? Eu preferiria ser cego, seria tudo muito mais fácil. Não veria mel nem formiga. Seria o que Deus quisesse. Seria o que o Diabo quisesse! Eu não busco meus sonhos porque tenho medo das formigas. O Paraíso é o melhor lugar para se viver se você quer realmente viver. Qual a graça da vida sem os obstáculos? Vida fácil é sinônimo de morte espiritual.
Estava a uma piscada de distância do fundo do penhasco. Decidi abrir os olhos e fugir do meu medo. Lá estavam os dois na minha frente. Deus e o Diabo estavam sentados de pernas cruzadas olhando para mim. Um deles estalava os dedos e o outro ouvia MPB enquanto mastigava chiclete. Não sabia quem era quem, e meus olhos queriam me enganar e mostrar as formigas e o mel na volta de cada um deles. Não deixei. Dei as costas para os dois e escalei o penhasco de volta. Ainda tinha muito para ser feito.
de volta a minha vida, me preparei para fazer dela uma aventura. Eu estava disposto a colocar na cabeça das pessoas que procurar por mel de qualidade vale a pena. Estava disposto a mostrá-las que esquecer as projeções oculares e seguir os instintos era o melhor caminho. Maldito olho! Tão ambicioso, tão covarde. Tão prazeroso, tão doloroso.
Comecei a mastigar chiclete e sentei em um formigueiro. Ao som de MPB, um pote de mel apareceu como num estalar de dedos. Meu cotovelo começou a coçar, e você imagina o porquê.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Salada de rúcula X Bolo de chocolate

Poxa, são raros os dias que posso realmente dizer que foram felizes. Não estou tento uma visão depredadora da minha vida, apenas fazendo uma constatação fatídica do que acontece na minha e, provavelmente, na sua vida.
Meu cotidiano foi hoje quebrado por uma salada de rúcula. Sua aparência, definitivamente, não era das melhores. Tomei uma das maiores e mais tristes decisões da minha alma quando a comi. Estava horrível. Graciosamente nojenta. Ela ainda tentou parecer gostosa em minha boca, coitada. Foi uma vã tentativa de proporcionar prazer.
Eu não dou muita chance para esses que tentam proporcionar prazer quando na verdade são uma porcaria. Pouco me importa suas vitaminas e seus benefícios para mim. Você aparenta mal. Você é, infelizmente, feio. Não tente parecer algo que você não é. Quando se nasce feio, morre-se feio.
Poxa, são raros os dias que posso realmente dizer que foram felizes. A salada de rúcula me deixou feio por dentro. Como se não bastasse, ainda tenta passar sua doença de feiúra para mim. Eu, na minha leve boa vontade, mando-a pescar. Em mim você não entra, salada de rúcula maldita!
Conclusivamente, eu lhe digo, cara pessoa feia, que se Vossa Feioria vier me poluir, eu não nada mais poderei fazer a não ser mandar-lhe para o Quinto. Não sabe aonde é? Fica lá no Inferno. Procure por Quinto dos Infernos. Vão saber dizer a você onde fica.
Meu mundo está repleto de saladas de rúcula. Usar tempero não adianta. Como eu disse: quem nasce feio, morre feio.
Eu tenha pena das saladas de rúcula do meu mundo, para dizer a verdade. São todas banidas do padrão estético da sociedade, não importando seu valor nutricional benéfico. É assim que vivemos, é assim que morremos.
Poxa, são raros os dias que posso realmente dizer que foram felizes! Também pudera, com tanta gente feia à volta. Vou lá comer bolo de chocolate. Isso sim faz bem, e é bonito. Agora pare de ler e vá se olhar no espelho, seu feio!

domingo, 9 de dezembro de 2007

Deus sorri enquanto como carne

Ó mundo frio. Ó mundo fraco. Tanto para fazer e tão pouco para crer. Andei pelo porto esses dias e descobri o Sol. Me apresentei e disse que o mundo estava muito escuro, apesar de isso causar medo. Ele apenas sorriu, com aquela sua ironia de dar raiva. Deu vontade de laçá-lo e jogar seus raios no mar para evaporarem. Continuei caminhando pelo porto e tudo ia ficando cada vez mais frio e sem emoção.
A fome começava a berrar no meu estômago. Mandei-a calar a boca! Me deu vontade de comer cenouras, mas quando vi uma barraquinha de churrasco ao longe, mudei de opinião imediatamente. Sem nenhum motivo aparente me virei para o céu, e aquele metido continuava a sorrir. Comecei a me irritar e mostrei o dedo médio. Não acredito no Sol. Ele acredita em mim? Não estou sendo injusto com sua existência, apenas acho que o seu trabalho não é cumprido corretamente.
O mundo está frio, muito frio, e eu aperto meu casaco contra o corpo. Tudo que existe possui uma função. Se o Sol não executa a sua corretamente não é problema meu. E se você o idolatra o problema é seu também. Eu não idolatro ninguém. Muito menos Deus. E o que mais me irrita é a ironia presente na face desses sujeitos mal idolatrados. Quando estava prestes a chegar na barraca de churrasco, Deus aparece e começa a sorrir para mim também. Era só o que me faltava. O Sol e Deus sorrindo mutuamente. Estão rindo de mim? Apontei o dedo médio novamente.
Eu não acredito no Sol e não tenho fé em Deus. Apenas confio no churrasquinho. Ó deliciosa carne, ó maravilhoso sabor. A fome decidiu dormir enquanto eu nutria minha Gula. Peguei o espetinho e o joguei no porto, deixando a água aproveitá-lo como eu o aproveitei. Ela agradeceu. De nada, Água, você merece! Você merece que eu lhe polua, porque você é outra inútil que só ocupa lugar no meu mundo. Dois terços do meu planeta são cobertos por você! Agradecimentos? Não! Apenas reclamações que você está prestes a acabar.
O tempo esfriou demais na minha volta. Acho que o frio era fruto de meu egoísmo. Comecei a me sentir mal. Quis vomitar o churrasquinho. Eu estava totalmente poluído pelos sentimentos e desejos podres do ser humano. Pulei do porto e caí na água. Ela me abraçou e me beijou, ou seja, me molhou. Ela até que é carinhosa. Boiei na água e olhei pro céu. Lá estava o Sol sorrindo. Minha mão quis se levantar para mostrar novamente o dedo médio, mas alguém a parou. Foi Deus, que estava boiando do meu lado, curtindo a doce água do meu mundo. Ele me deu o palito de churrasco, eu o peguei e matei, literalmente, a fome.
O Sol sorriu mais ainda e eu retribuí pela primeira vez o seu sorriso. Sentei do lado da barraca de churrasquinhos e tirei meu casaco. Ó mundo frio. Ó mundo fraco. Estou com calor, quer meu casaco?

domingo, 2 de dezembro de 2007

A esmola na cartola

Palavras de um amigo contra os gestos do inimigo.
Bom ou mau, ambos se aproximam, destruindo meu abrigo.
Me escondo na cartola do mágico, onde não há distinção de valores.
Dito frases mágicas esperando a perpetuação das cores.
Você aguarda, catando-me fora da cartola.
Sinto lhe dizer, mas seu tempo está sendo perdido.
Daqui de dentro, garanto, não sai esmola.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Prazer, chato!

Chato, borring. Sinto-lhe informar, mas você é assim. Eu também sou, fazer o quê. O mundo caminha de mãos dadas com o sentimento do descaso. Eu já pedi pra ele parar e deixar os chatos seguirem na frente, mas ele não me ouve. Aliás, ninguém me ouve.
Todos na minha volta acreditam que estão na beira do precipício da morte, e que quando caírem será o triste fim. Que comédia, na verdade nós já estamos caindo a muito tempo nesse precipício. É esse vento que bate no nosso rosto, essa vida corriqueira. Sim, é o precipício. Seja muito bem vindo, você também está caindo.
É, ninguém me ouve. Se ao menos você ouvisse a si próprio, estaríamos menos perdidos. Mas, infelizmente, nem isso acontece. Desculpa, é o som na minha cabeça. Quer dizer, é o vento do precipício, que funciona como música. Generalizando, o vento é a música.
Somos todos chatos, obrigado. Somos muito chatos. Vivemos pensando no passado e rezando por um futuro. Eu já consigo ver o meu futuro, é o chão que se aproxima. O chão do precipício. A morte. Até mesmo a Morte é chata. Como se não bastasse também é entediante pensar nela. Não vou rezar por ela, acho que ela não merece. É isso mesmo: Morte, você é chata! Vem me pegar então, pode vir pra luta! Te pego na saída.
Você é chato porque espera a morte. Você é chato porque não vive intensamente o presente. Chato porque se preocupa com a politicagem. E se você não se considera uma pessoa borring, que não se preocupa com nada disso, parabéns! Passe filtro soltar e boa praia! Te vejo no fundo do poço, na parada final do penhasco. Vou estar de mão dadas com o mundo e o sentimento do descaso.
Quem vai dar a mão pra Morte? Eu esperava que você o fizesse! Não se faça de chato! :)