domingo, 9 de dezembro de 2007

Deus sorri enquanto como carne

Ó mundo frio. Ó mundo fraco. Tanto para fazer e tão pouco para crer. Andei pelo porto esses dias e descobri o Sol. Me apresentei e disse que o mundo estava muito escuro, apesar de isso causar medo. Ele apenas sorriu, com aquela sua ironia de dar raiva. Deu vontade de laçá-lo e jogar seus raios no mar para evaporarem. Continuei caminhando pelo porto e tudo ia ficando cada vez mais frio e sem emoção.
A fome começava a berrar no meu estômago. Mandei-a calar a boca! Me deu vontade de comer cenouras, mas quando vi uma barraquinha de churrasco ao longe, mudei de opinião imediatamente. Sem nenhum motivo aparente me virei para o céu, e aquele metido continuava a sorrir. Comecei a me irritar e mostrei o dedo médio. Não acredito no Sol. Ele acredita em mim? Não estou sendo injusto com sua existência, apenas acho que o seu trabalho não é cumprido corretamente.
O mundo está frio, muito frio, e eu aperto meu casaco contra o corpo. Tudo que existe possui uma função. Se o Sol não executa a sua corretamente não é problema meu. E se você o idolatra o problema é seu também. Eu não idolatro ninguém. Muito menos Deus. E o que mais me irrita é a ironia presente na face desses sujeitos mal idolatrados. Quando estava prestes a chegar na barraca de churrasco, Deus aparece e começa a sorrir para mim também. Era só o que me faltava. O Sol e Deus sorrindo mutuamente. Estão rindo de mim? Apontei o dedo médio novamente.
Eu não acredito no Sol e não tenho fé em Deus. Apenas confio no churrasquinho. Ó deliciosa carne, ó maravilhoso sabor. A fome decidiu dormir enquanto eu nutria minha Gula. Peguei o espetinho e o joguei no porto, deixando a água aproveitá-lo como eu o aproveitei. Ela agradeceu. De nada, Água, você merece! Você merece que eu lhe polua, porque você é outra inútil que só ocupa lugar no meu mundo. Dois terços do meu planeta são cobertos por você! Agradecimentos? Não! Apenas reclamações que você está prestes a acabar.
O tempo esfriou demais na minha volta. Acho que o frio era fruto de meu egoísmo. Comecei a me sentir mal. Quis vomitar o churrasquinho. Eu estava totalmente poluído pelos sentimentos e desejos podres do ser humano. Pulei do porto e caí na água. Ela me abraçou e me beijou, ou seja, me molhou. Ela até que é carinhosa. Boiei na água e olhei pro céu. Lá estava o Sol sorrindo. Minha mão quis se levantar para mostrar novamente o dedo médio, mas alguém a parou. Foi Deus, que estava boiando do meu lado, curtindo a doce água do meu mundo. Ele me deu o palito de churrasco, eu o peguei e matei, literalmente, a fome.
O Sol sorriu mais ainda e eu retribuí pela primeira vez o seu sorriso. Sentei do lado da barraca de churrasquinhos e tirei meu casaco. Ó mundo frio. Ó mundo fraco. Estou com calor, quer meu casaco?