quinta-feira, 29 de maio de 2008

Cadê meu presente?

Diante da falta de dinheiro, não me restou outra alternativa: ofereci minha pessoa como presente à aniversariante.

Dinheiro é tudo, não é mesmo?

Minha vai mudar. Ah... vai sim!

sábado, 10 de maio de 2008

Cheiro de ar



Há alguns dias, andava eu pela rua, sonolento. Tentava me sentir invisível, como se pudesse passar desapercebido pelas pessoas deste insano mundo. Meu plano de invisibilidade ia funcionar perfeitamente bem. Uma cena triste, porém, ergueu-se diante de mim: um pobre velho pedindo ajuda freneticamente no meio da calçada. Diabo! Por que logo no dia em que desejo sumir, algo me força a aparecer?
Essa história tem dois finais. A primeira se chama “Socialismo Utópico”, e a segunda se chama “Socialismo Real”.
Em “Socialismo Utópico”, aconteceu aquilo que Deus gostaria de ter visto. Se essa versão realmente tivesse acontecido, eu diria que vale a pena viver cada segundo dessa preciosa vida! Infelizmente, ela é apenas utópica. É um desfecho esperado por todos aqueles que buscam o valor do ser humano.
O velhinho veio cambaleante pela calçada. Apoiava-se numa bengala de madeira surrada. Pedia ajuda desesperadamente. Ele não berrava, apenas sussurrava perto dos que passavam. “Por favor, ajude-me!”. Se você pensa que ele queria dinheiro, você está enganado. Seus olhos pediam algo mais. O pobre senhor necessitava de algo importante. Era notável.
Duas adolescentes simpáticas seguraram o pobre homem no braço e perguntaram-lhe do que ele precisava. A perna. Sua perna estava doendo muito, necessitava urgentemente de um hospital. Um homem de terno parou ao lado do senhor e ajudou a levá-lo para um ambulatório que havia ali perto. Mais uma meia dúzia de pessoas se prestou para ajudá-lo também. Estavam todos preocupados com o pobre senhor. Tudo ocorreu bem! No fim, um arco-íris iluminou o céu e pôneis sobrevoaram as nuvens jogando tulipas sobre o ambulatório. Todos riam e se divertiam diante dos bons atos. O câncer desapareceu da face da Terra e todos viveram felizes para sempre.
Em “Socialismo Real”, aconteceu aquilo que realmente acontece na vida real. O egoísmo se perpetua diante de qualquer outro sentimento.
O velhinho veio cambaleante pela calçada. Apoiava-se numa bengala de madeira surrada. Pedia ajuda desesperadamente. Ele não berrava, apenas sussurrava perto dos que passavam. “Por favor, ajude-me!”. Se você pensa que ele queria dinheiro, você está enganado. Seus olhos pediam algo mais. O pobre senhor necessitava de algo importante. Era notável.
Duas prostitutas mirins passaram pelo pobre velho com ar esnobe e cara de nojo. Um velho! Grande coisa para as duas futuras modelos. Um cavalo de terno parou ao lado do velho, olhou para ele e seguiu seu caminho. Mais meia dúzia de pessoas passou pelo pobre velho parado no meio da calçada. Era minha vez, e sentia como se aquele fosse meu julgamento. Ainda não concatenava as idéias sobre a situação que havia se postado perante mim. Não é desculpa. Nervoso, passei pelo velho. Igualei-me às prostitutas e ao cavalo. Sentia que era a pior da pessoa da face da Terra.
Já refletindo sobre o ocorrido, senti-me mais pesado ainda. Onde estão os valores de todos? Onde estão os meus ideais? Sinto-me perdido, vagando pela escuridão vazia da indiferença. Não sei o que tinha o pobre senhor, e com certeza nunca irei saber. Eu falhei. Sou um fracassado!
Peço perdão a mim mesmo, por ser tão egoísta. Melhorarei. Prometo! Não é promessa política, é compromisso.
No fim de “Socialismo Real”, o pobre velho caiu morto no meio da calçada. Não morreu pelo seu problema, foi-se graças ao descaso humano. Abandonou uma vida pelo qual não queria mais batalhar para ter. Abdicou do cheiro do ar e do gosto da água para aliviar o sofrimento.
Sou indiferente, como o gosto da água e o cheiro do ar. Desculpe.
É um compromisso comigo mesmo: mudar.