quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Outra Missa do Galo

- O que você está lendo?
A mulher caminhava com uma camisola púrpura. A luz da sala, fraca e amarela, realçava as curvas da médica.
- Missa do Galo. – o menino, com seus dezessete anos, mal arriscava encarar a cor de pele morena que tanto o proclamava.
- Machado de Assis... É um belo conto. – a mulher sentou em frente ao garoto e ergueu um creme hidratante. Não se sabe de onde.
- Sim... Você gosta? – ele cedeu à tentação de vislumbrar a médica passar o hidratante nas coxas morenas e fortes. Sua mão dançava sobre a perna. Era uma valsa com as mãos e o creme.
- Não muito. Eu esperava que algo acontecesse no fim do conto... – ela encarou o menino nos olhos, desafiadora.
A mão ainda dançava pela perna.
- Eu tenho que ir dormir. O vestibular está chegando... – ele se ergueu desajeitado. Os olhos, como imãs, não desviavam do show de dança e prazer que acontecia na coxa da mulher.
Já parcialmente absorvido, o creme fazia a pele lisa brilhar, a cor morena se realçar e o cheiro de aveia desfazer os odores comuns de uma sala.
Eles se fitaram.


Apenas 5 minutos depois:
- Foi bom pra você? – a mulher acendia um cigarro, aborrecida.
O menino soltou um grunhido, extasiado.
- Pois é... – se levanta da cama e veste seu vestido de cor púrpura – Eu agora gosto da Missa do Galo.
O menino franze o cenho:
- Por quê?
- Machado estava certo. Não deveria acontecer nada no fim do conto.